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sábado, agosto 14, 2004
Ando meio sumido nos últimos tempos, mas tudo por conta de uns cursos de grátis, patrocinados pelo governo Lula e que apregoam métodos de conservação de energia. Como não sou mais nenhum garoto, fui lá conferir, pra ver se tinha um jeito de conservar a minha energia, que, sei lá, pode fazer falta justo naquela hora "h", e essa luz incandescente que ora me alumia, poderá pôr fim a anos de glória entre elas, as belas.
Falando nisso, as belas que me perdoem, mas maquiagem é fundamental. Acho isso hoje, depois do que vi esta semana, num trajeto de ônibus de casa para o curso. Pela hora, viajei no busão lotado, fazendo o arco da ponte Rio-Niterói em pé, ao lado de bela moçoila que não me dava a mínima bola. E foi lá pelas tantas, já no Rio e após a primeira parada, que nasceu um local vago à minha frente, o qual, prontamente e num arroubo de cavalheirismo, ofereci à moça. Maravilhada com o gesto, abriu-me um sorriso muito parecido com aqueles que as mulheres nos dão quando as presenteamos com um anel de brilhantes, sorriso que jamais ganhei, não sei porquê.
Nem deu tempo de me empolgar. Num sinal de enorme agradecimento, ela pegou minha pasta e colocou no colo, sob a sua bolsa já aberta. E dali, daquela cornucópia mágica, eu veria sair uma quantidade infinda de esponjas, pincéis, pozinhos de todas as cores, líquidos, pastas, cremes dourados, prateados, luminescentes, verdes, azuis, rouges... Entendi então, a razão daquele sorriso de diamante. E numa espantosa demonstração de agilidade, controle motor e domínio cênico, a moçoila desenvolveu o mais completo ritual de pintura que a minha taba já viu. Se fosse pintura de guerra, ela venceria ali, sem disparar sequer uma única flexa, a não ser daquele olhar transformado. Sombras, blush, baton, delineador, iluminador, tudo aplicado com maestria e precisão, sob o auxílio de um espelho mínimo e balançante, equilibrado sobre as pernas (e que pernas) nobres, qual marfim. Por último, como uma provocação ao inimigo, o rímel, aplicado perigosamente nos cílios, como que a demonstrar a enorme coragem da guerreira, diante dos solavancos do coletivo, agora no trânsito mais pesado da urbe.
Desci no meu ponto, pensando no quanto nós valemos para tanto sacrifício. Sim, porque aquela maquiagem, como todas outras, era para mim, como é para você que me lê, homem ou mulher, e como é para todos nós, que temos visão de ver e de enxergar, apesar de tão cegos. É a vaidade, o pecado preferido do Diabo, segundo Robert de Niro, em Coração Satânico; é esse pecado semi-capital, que move o mundo e que se mostra no ato da moça do ônibus. Ou na cirurgia da minha vizinha, com cara de 60, mas equipada com peitinhos de 20... Fraude pura! E por falar em fraude, lembrei de uma ótima:
Na prova oral, o professor pergunta ao estudante de direito:
- O que é uma fraude?
- É o que o senhor está fazendo, responde o aluno.
O mestre fica indignado:
- Ora essa, explique-se.
- Segundo o Código Penal, diz o aluno, comete fraude quem se aproveita da ignorância do outro para prejudicá-lo.
Hummmmm... pensando bem, eu poderia pedir indenização por ter sido ludibriado ao longo da vida... Não; afinal, também não fui tão honesto assim em meus elogios... Deixemos como está.
Bem, voltemos ao que interessa: ninguém quer não ser bonito (e nem eu) e, para isso, parece que vale de tudo.
- Acabei de me pintar e não vi minha sombra - disse a moça à amiga.
- É assim, acontece do dia pra noite: acordei e notei meus olhos caídos! - disse a outra. E lá foram as duas andando, conversando alegremente, marcar a cirurgia plástica.
Sei não; ando em dúvida se faço uma lipo na barriga, ou se troco de carro. Com a lipo, fico a pé. Com carro novo, fico assim, com cara de peito caído... Dúvida mais que cruel. Afinal, o que diria o de Niro?
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Se medicaram:
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