Via Oral


Um blog sobre textos, aforismos, arte, literatura, arquitetura, humanismo e outras coisas para as quais ninguém dá a mínima. Escrito em encenado nas poucas horas vagas que a atividade de ADA (Arquiteto Doméstico Administrador) permite.
Um espaço perfeitamente adequado à muita conversa fiada, mentiras acreditáveis, ranhetices, rupturas, causos, crônicas e, sobretudo, área disponível aos amigos, uma turma cheia de gaiatices mas que eu adoro.
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sábado, setembro 04, 2004

Como vocês sabem, estou reeditando alguns posts antigos, até que me venha o tempo necessário para os assuntos novos. Mais dia, menos dia, um dia estarei de volta.

Para sempre.

Hoje eu escutei o último CD da Elis Regina. Elis não morreu, ao contrário do que muita gente pensa. Ela é para sempre. E foi ali, ouvindo, lembrando dos maneirismos vocais da diva de minha juventude, que fiquei pensando: o que é para sempre, na vida das pessoas? Na vida da Elis, é a voz. A voz da Elis é tão para sempre, que a Maria Rita, sua filha, canta igualzinho à mãe. Tudo é tão passageiro, tudo é tão rápido, tão injustamente rápido... O que poderia ser para sempre, se o para sempre acaba logo ali adiante? Estamos tão distraídos com nossa "missão" de acumular riquezas, que nem atentamos à inevitável provisoriedade das existências humanas. Cada existência dura pouco, muito pouco. Nos apegamos tão fervorosa e intensamente às nossas conquistas que, para nós, por algum tempo, elas são eternas. Elas nos são "para sempre". E foi aí que eu, pensando sempre, comecei a contar quantas coisas eu tenho para sempre. A memória, essa eu tenho pra sempre. Pelo menos, até que as artérias se tornem quebradiças e o sangue se atrapalhe todo pelo caminho e, antes de chegar ao cérebro, dê uma passadinha pelos "países baixos". Não poderia cometer erro maior, esse meu sangue. Enquanto eu tiver minha memória para sempre, terei as lembranças para sempre. As imagens são as lembranças dos olhos. Como não ser para sempre a imagem do meu filho, olhando para as mãos e tentando decidir com qual delas seguraria a bola? Descobrimos, todos juntos, que ele seria canhoto. Como não ser para sempre, o aroma do perfume da criatura amada? Qualquer ser que passe à frente do nosso nariz, centenas de anos depois, portando uma fragrância que passou por um corpo amado, trará esse corpo ao presente, para ser mais uma vez amado, como sempre. Outra coisa que eu tenho para sempre é saudade. Saudade de tudo que já aconteceu e que pude chamar de emoção. Algumas emoções são falsamente revividas. Digo falsamente, porque cada emoção gera uma sensação única e, como uma impressão digital, não pode ser fielmente repetida por outro que não o seu dono. E o dono da emoção sentida não sou eu, hoje, mas um outro "eu", que não vive em mim agora, e sim, noutro tempo que já se foi. A gente insiste, só pra se enganar porque, afinal, ninguém é de ferro e (talvez) nem para sempre. Não se sente a mesma emoção duas vezes. Será que é por isso que não se ama a mesma pessoa duas vezes? Ah, o amor. O amor também é uma das minhas coisas para sempre. Todas as pessoas as quais amei têm um pouco de mim. Eu as trago na lembrança e, por mais que elas não queiram, me levam com elas também, para sempre. Sei lá, mas acho que estou espalhado pelo mundo. Oh sim, claro... Tenho outra coisa para sempre: o desejo. Esse sim é um perigo. O meu desejo é para sempre, queira meu corpo ou não. Mesmo quando ele vergar à frente, apoiado num tronco de arbusto, brilhante de tão velho, continuarei te desejando, seja você quem for. Então, satisfazer o meu desejo será um problema seu e do meu corpo. A minha alma, que é quem realmente conta, não terá nada a ver com isso. Te desejará para sempre. Que eu me lembre, tem mais alguma coisa que em mim é pra sempre e, pelo visto, não será mesmo a memória... Ah, lembrei: a esperança... A esperança tem que ser mais que para sempre. Por que o "para sempre", sempre acaba rápido demais. Mas, a esperança, não.

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