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quinta-feira, novembro 10, 2005
Gentes, eu não tenho culpa se o texto é grande. Não é meu (ô inveja...) mas é bem legal. Vale uma lida, principalmente as falas do "Grandeus". Noé, também anda hilário, nessa história.
A ARCA DE NOÉ (ou O Objetivo, Esse Desprezado) (ou ainda Os Meios Justificam o Fim - A Anti-lei de Maquiavel)
Absalão era um homem que se podia conceituar como justo. Era um estudioso e quando repetia os sábios dizendo que os lados de um quadrado eram iguais, realmente tornava-se difícil entendê-lo. Dos seus 65 anos de idade, a maior parte havia dedicado à arte da guerra, onde conceitos técnicos e científicos eram aplicados. Particularmente, era apaixonado pela organização das forças de combate e o uso de armas avançadas, tais como lanças de grande alcançe, setas orientadas e na última novidade bélica: o lançador de pedras. Era um verdadeiro General. Com o avanço da idade e o aumento correspondente da sabedoria, Absalão também se preocupava com assuntos humanos, os quais, porém, o perturbavam um pouco. O Criador já não era reverenciado, como no seu tempo, os filósofos eram ridicularizados, havia uma inversão completa na política, acreditava-se mais na energia e estultice dos jovens, do que na ponderada e segura orientação dos mais velhos. Um dia Absalão andava na ravina, imerso em seus pensamentos, quando, de repente,
?Puff? - Uma nuvem de fumaça apareceu, acompanhada de uma voz tronitoante:
- ABSALÃO!
Absalão prestou-se apavorado. Só podia ser o Criador, pensou. E era. Em pessoa!
- ABSALÃO - voltou a voz - NÃO ESTOU CONTENTE COM OS HOMENS. ESTÃO POLITIZADOS; GUERREIAM ENTRE SI, E SÓ DEFENDEM INTERESSES PESSOAIS. O TRINÔMIO ADÃO - EVA - COBRA, DEU NISSO. AÍ... FAREI CHOVER POR 40 DIAS E 40 NOITES, ATÉ COBRIR A TERRA DE ÁGUA. ISSO SERÁ CONHECIDO COMO O DILÚVIO. VOU MATAR TODO O MUNDO. MAS QUERO UMA HUMANIDADE NASCIDA DE UM HOMEM INTELIGENTE, PRÁTICO E COM OBJETIVOS. VÁ, E CONSTRUA UM BARCO PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA, E NELE COLOQUE UM CASAL DE CADA SER VIVO. VOCÊ TERÁ QUATRO MESES PARA ESTE EMPREENDIMENTO. MEU CONTATO COM VOCÊ É, DORAVANTE, O ARCANJO GABRIEL, QUE VOCÊS COSTUMAM CHAMAR DE 'MINISTRO DE DEUS'.
?Puff?! ... E a nuvem se foi...
Absalão levantou-se, lívido. O Criador elegera-o gerador da nova Humanidade! Todas as suas idéias seriam propagadas para o futuro! Mas Absalão nada conhecia de barcos, nem de navegação; porém, não discutiria as ordens recebidas, para não perder a grande oportunidade dada pelo Criador. Absalão era um sexagenário e estava difícil ganhar a vida com o 'status' de que se achava merecedor. Porém... quatro meses... Era muito pouco tempo! Era preciso resolver um problema técnico - construir um barco enorme. Que objetivo! Absalão provaria que era capaz de salvar a humanidade com sapiência dos mais velhos, usando a energia dos mais jovens! Absalão rebuscou a memória. Conhecia um Engenheiro Naval chamado Neul. Não - Noé! Sim, era este o nome. Noé poderia construir-lhe o barco. Tão logo pensou, tão logo já conversava com Noé:
- Meu Caro - disse Absalão - quero encomendar um barco... e dos grandes!
- Sim, Senhor, mas qual o tipo, para qual a carga, para que navegação?...
- Sim, sim, Noé, isto são detalhes. É um barco para grande carga e águas pesadas. Quero fazer uma longa viagem com a família e levarei tudo.
- Está bem, senhor. Aqui mesmo temos floresta com madeira de densidade 0.8 g/c³, com quantidade suficiente. Se a carga é grande, faremos o centro de gravidade baixo e o centro de empuxo alto, de modo a obter grande estabilidade... Acho que com 10 bons carpinteiros, que consigo arranjar, e mais um mês de trabalho duro, estaremos com o barco pronto... - Perdão, caro Noé, não quero interrompê-lo, mas como pode ter certeza desta ?cadencidade? da madeira? E se os homens são realmente competentes? E se trabalharão com eficiência?
- Senhor, a unidade a que me refiro chama-se densidade e os homens são carpinteiros, já meus velhos conhecidos...
- Não, não, Noé - disse Absalão, com um sorriso de condescendência. ?Este EMPREENDIMENTO é grande e a coordenação é minha. Serei como que um Presidente e você será o técnico. Combinado??
- Combinado senhor Presidente. O barco é seu e quem manda é o Senhor - retrucou Noé, dando de ombros. Levantou-se para cumprimentar Absalão e retirou-se. Absalão pensou: puxa, não havia pensado nisso! São precisos carpinteiros para cortar as árvores e construir o barco. É preciso selecionar bem estes homens, pois o EMPREENDIMENTO não pode fracassar. Ah! Já me lembro... Meu auxiliar na Cruzada Santa de Três-Pedras fez ótima seleção de lanceiros. Roboão é o seu nome. Hoje está selecionando beterrabas para as indústrias egípcias, mas virá trabalhar comigo, por um salário um pouco maior. E Roboão foi contratado.
- Mas, Chefe, se o técnico disse 10 carpinteiros, precisamos no mínimo de 15. O Senhor sabe, faltas, doenças, férias, turn-over'... E para selecionar bem 15 homens temos que explorar um universo de pelo menos 150 a 200 homens. Levarei algum tempo para isto e precisarei de auxiliares.
- Confio em você Roboão. Já fez um bom trabalho para mim e tem grande experiência com Pessoal. Realmente, achei Noé muito simplista. Convide quem você achar melhor para realizar o recrutamento e a seleção dos homens para a tarefa. Mantenha-me informado. - Certo, Chefe, obrigado pela confiança. Sairei em campo imediatamente. Naquela noite Absalão dormiu satisfeito. Após a missão do Senhor, em menos de 24 horas já tinha o técnico e o especialista em Pessoal. Dormiu embalado ainda pela algazarra de sua família (20 membros) na festa de inauguração do lançamento do EMPREENDIMENTO. O segundo dia amanheceu tranqüilo e claro. O Presidente foi acordado por Roboão, com boas notícias.
- Chefe, já tenho 5 homens anunciando no povoado. É a fase do recrutamento. De acordo com o mercado, estamos oferecendo 5 dinheiros.
- Mas, Roboão, minha mulher ganha 9 dinheiros cosendo para fora... Não será pouco?
- Deixe comigo, Chefe; no recrutamento da última batalha pagamos 8 dinheiros para valentes combatentes. Estes são apenas carpinteiros, que não podem ser comparados com a sua senhora. Temos assim 5 recrutadores e 10 examinadores para a fase de seleção, menos do que 10% dos candidatos esperados!
- E quanto ganharão?
- O salário desta equipe varia de 8 a 12 dinheiros, por serem especialistas. Chefe, um probleminha a mais: não quero responsabilidades com o numerário e não sou bom em contas. O trabalho com o pessoal já é bastante. Não acha melhor termos um homem para a gerência financeira do EMPREENDIMENTO?
- Bem lembrado Roboão! Mas não conheço nenhum e deve ser um homem de confiança.
- Chefe, se me permite, quero lembrar-lhe o Judas, aquele nosso velho Capitão, que se ocupava do dinheiro da força de combate?
- Não, não, Roboão. Este negócio de dinheiro com o pessoal das armas não dá certo. Pensaremos em outro: deve ser um especialista na coisa... Você me compreende...
- Então, chefe, poderemos fazer uma seleção entre os candidatos. Sairei em campo. O EMPREENDIMENTO crescia de vento em popa. As equipes de recrutamento e seleção estavam em plena operação. As finanças já tinham um responsável. Mas, onde colocar este pessoal? Absalão partiu, com seu habitual dinamismo e logo adquiriu uma grande cabana de madeira, já com divisórias e tapetes e contratou imediatamente o pessoal de Zeladoria e Segurança, convidando ?alguns antigos conhecidos das forças de combate?. Iniciou-se assim a operação em grande escala.
- Senhor Presidente - falou timidamente a graciosa recepcionista: está aqui o Dr. Noé com alguns desenhos e...
- Minha filha, já lhe disse para não interromper. Diga ao Dr. Noé que falo com ele após o almoço. E dito isso, Absalão continuou a entrevista com o futuro Gerente de Material, Jacob, também seu velho conhecido de carreira, dos tempos da campanha do Sinai.
- Pois é, amigo Jacob, preciso cercar-me de gente de confiança para o sucesso do EMPREENDIMENTO. Material é uma área delicada, não tolerarei desvios de estoque e má especificação dos itens.
- Certo, Chefe, sabe que pode confiar em mim. Nunca sumiu uma flexa ou lança, no meu tempo. Mas o armazenamento de madeira necessita de almoxarifado adequado e de bom almoxarife. Para o controle necessitarei de arquivos Kardex, prateleiras e pessoal de apoio.
- Justo Jacob. Encomende as prateleiras na carpintaria do povoado e fale com o Roboão para o recrutamento do pessoal necessário. Neste momento entrou Job, o Secretário Executivo do Presidente. Jacob afastou-se discretamente.
- Senhor Presidente, acaba de chegar um relatório da Segurança, indicando certos nomes que não devem ser contratados. Há suspeitas de que alguns não sejam bem confiáveis.
- Ótimo trabalho de Gau, jamais lhe faltou a intuição. Precisamos estar alertas.
- Ah... outra coisa, Senhor Pesidente: O Dr. Noé telefonou novamente. Parece aflito para a aprovação de alguns desenhos.
- Ora, este Noé! Sempre querendo me confundir com cidades de madeira, centros de fluxo, etc. Ele acha que não posso, sozinho, me responsabilizar pela aprovação desses desenhos. Diga-lhe que nomearei um ?grupo de trabalho?, o GT-BAR - Grupo de Trabalho do Barco, para dar-me um parecer. O rapaz é bom de projetos, mas nada entende de custos ou administração por objetivos. Mas, teremos tudo nos eixos tão logo chegue o meu chefe de Administração. Vai colocar ordem e método nesta turma. Quero ver produção! Quinze dias se passaram e o cronograma proposto já estava na mesa do Presidente. Uma Diretoria das Coisas (DC), uma dos Investimentos (DI) e uma de Barco (DB). A DB já havia montado um laboratório especializado para a medida de densidade da madeira, análise de fungos e cupins e já estavam instalados os equipamentos para medida de elasticidade e flexibilidade. A Administração, em apenas 15 dias, já havia elaborado as provas de seleção para o ?selecionamento? do pessoal de apoio, seleção, etc. Roboão, como cumprimento ao Chefe, havia mandado comprar uma charrete último tipo, de 16 rodas e boléia separada, já acompanhada do charreteiro. Naturalmente houve pequeno atrito com Jacob (Chefe do Material), mas como eram antigos companheiros de armas, o incidente foi esquecido e contornada a auditoria. Naquela noite Absalão estava cansado, mas não pode esquivar-se de rereber Noé em sua residência.
- Senhor Presidente, desculpe-me interromper o seu descanso, mas o projeto já está pronto e as pessoas do GT-BAR ainda não foram nomeadas. O material já está especificado, porém o laboratório ainda não emitiu o laudo de aprovação da madeira e não se conseguiu os carpinteiros para o corte... Se o Senhor Presidente pudesse autorizar-me a trazer os carpinteiros conhecidos, do povoado...
- Não se preocupe, Noé. Falarei amanhã com o DB e apresentarei a contratação do pessoal. Você sabe, apesar de ser Presidente, não posso mudar as normas da organização, autorizando diretamente seus carpinteiros. Se o fizesse não precisaria deles. Da chefia vem o exemplo do cumprimento das normas. Não se preocupe que o EMPREENDIMENTO está nas mãos de profissionais os melhores. Boa noite Noé... Noé afastou-se sem entender muito bem. Havia sido convidado para construir um barco. Agora, estava às voltas com normas, instruções e exames de seleção... Balançou a cabeça - as coisas devem ser complicadas mesmo - e o Presidente é um homem capaz, senão, não seria Presidente. Partiu otimista para sua cabana. Se o Presidente disse, é porque vai indo tudo muito bem. Vigésimo quinto dia. Manhã linda. Job anuncia a chegada de Roboão.
- Entre logo, meu velho, sente-se. Aceita um leite de cabra?
- Sim, Chefe, obrigado. Por falar nisso, seguindo a lei, mandei distribuir leite de cabra pela manhã e pela tarde, para todos. Já está até codificado o material, para o controle pelo computador. Mas para isto foi necessário adquirir 200 cabras, alugar um pasto e contratar 5 pastores. Jóia Chefe! Veja só: dá 40 cabras por pastor e os pastores só ganham 10 dinheiros. - Você é um bicho na Administração de pessoal Roboão. Falarei ao seu diretor para propor sua promoção na próxima vez. Como vai a sua avaliação pessoal?
- Realmente não sei, Chefe, é confidencial...
- Darei um jeito para que seja boa, afinal já temos 500 pessoas no efetivo e todas passaram por você. E você conseguiu ainda comprimir o quadro, que era de 800 pessoas. Quanto economizaremos em média?
- Nessas 300 pessoas, cerca de 4.000 dinheiros, Chefe! - respondeu Roboão com um sorriso de modesta satisfação. Talvez fosse aumentado para 30 dinheiros, pensou.
- Roboão, não quero incomodá-lo e nem por sombra desfazer do belíssimo trabalho de sua equipe, mas Noé disse que ainda não foram contratados os carpinteiros para o corte...
- Ora, Chefe. Noé é um sonhador. Só pensa nos seus benefícios. Já lhe expliquei a complexidade da contratação. Por exemplo: já aumentamos a oferta para 6 dinheiros, porém todos os carpinteiros candidatos foram reprovados no primeiro psicotécnico. Não adianta contratar pessoal sem aptidão psico-profissional para o corte de madeira. Se não passam nem neste exame, imagina nos outros. Além disso o psicotécnico deve ser o primeiro exame, para eliminar logo os agressivos. O Senhor sabe, com toda essa madeira para cortar, pode haver acidentes muito sérios...
- Realmente você tem razão, Roboão. Noé desconhece o que é uma boa organização. Toque como você achar melhor. Se o contratei é porque tenho total confiança no seu trabalho.
Quadragésimo dia.
Finalmente a primeira reunião de Diretoria. Era o momento solene das grandes decisões de cúpula do EMPREENDIMENTO. Todos com seu melhor terno, sentados à mesa de reunião com suas pastas tipo 007. O Presidente, satisfeito, relatava que o EMPREENDIMENTO era o orgulho do povoado. Havia muito trabalho e emprego para todos. Aproveitando o clima de satisfação, o DC informou que havia feito um convênio com a Escola de Carpinteiros, pois a mão-de-obra necessária, estava aquém do treinamento necessário. Além disso havia criado o Departamento de Recursos Humanos com a missão de re-treinar os carpinteiros para a técnica naval e também treinar datilógrafos, secretárias, auxiliares para administração. Havia também um Departamento de Segurança e Medicina do Trabalho, por força da lei. O ambulatório atendia cerca de 20 pessoas por dia. O DB, aproveitando uma brecha do DC, ponderou timidamente que falta papel para desenho e que a eficiência dos carpinteiros era baixa: havia só um e que cortou 3 árvores, sendo 2 bichadas, de acordo com o último relatório do Controle de Qualidade. Noé, o técnico, estava tentando suprir a falta, desenhando em folhas de bananeira e cortando árvores à noite, após o expediente. Quando o DB propos aumentar o salário de Noé para 15 dinheiros, o DC explodiu, seguido de perto pelo DI. - Estes tecnocratas paisanos não funcionam e ainda querem aumento: Senhor Presidente, sou de opinião que devemos aumentar a equipe de recrutamento e apertar as provas de seleção. Nossa equipe técnica deixa muito a desejar!
- Perdão, retrucou o DB. O laboratório funciona. Veja que detectou as árvores bichadas. Acontece que não temos o apoio necessário. O Senhor está desviando recursos para a área de Operação do barco, recrutando timoneiros, taifeiros, etc.
- Mas é lógico, - interveio o Presidente - temos que agir com antecedência no treinamento. Treinar é investir no futuro!
No octogésimo dia Absalão passeava na ravina. Estava orgulhoso. Era Presidente de um EMPREENDIMENTO que já estava com 1.200 pessoas. As preocupações de Noé eram infundadas. Não passava de um tecnocrata pessimista. Felizmente já havia o Diretor Técnico para despachar com Noé. Menos um aborrecimento.
Subitamente, ?Puff? - uma nuvem de fumaça. ?O Ministro do Senhor!? - murmurou Absalão, prostrando-se.
- ABSALÃO, PONHA GENTE DE MAIS PESO NO TOPO, CASO CONTRÁRIO O EMPREENDIMENTO AFUNDARÁ. ?Puff?.
Absalão correu à cabana de Noé.
- Noé, Noé, ponha um convés no alto do mastro. Vou colocar as pessoas mais pesadas em cima.
- Mas Presidente, isto é impossível... Sempre o convés é embaixo e o mastro aponta para cima. Se aumentarmos a massa no topo, o barco vai emborcar!
- Não discuta alimentação agora comigo, Noé! O MINISTRO mandou colocar homens pesados no topo e é isto que vou fazer... e cumpra as minhas ordens! Noé não retrucou. O Presidente estava nervoso. Talvez Job pudesse fazê-lo ver mais claro... Noé correu à Secretaria Geral, mas lá só encontrou o comandante de operação do barco, que já esperava Job havia duas horas. Com ele estavam o subcomandante nível 3, o imediato, o pré-imediato, dois assistentes e três assessores.
- Noé,- disse o Comandante - o seu projeto não anda. Como vou treinar os meus homens sem barco? Vou pedir ao Presidente para adquirir um simulador de barco, caso contrário não me responsabilizo. O DI diz que minha razão de operação está horrível, mas alocou custo só na minha área! Já reparou quantas pessoas de apoio tem o Departamento de Apoio? Noé balançou a cabeça e retirou-se vagarosamente. Realmente o que ele conseguira? Uma meia dúzia de desenhos, alguns em folha de bananeira. E isto em 80 dias. Ele havia prometido ao Presidente que faria o barco em 120 dias. Estava acabrunhado e sentia-se um incompetente. Mas, o que estaria errado? O Presidente entrou furioso, desabafando em Job. - Veja só! Faltam apenas 40 dias e a Divisão de Importação diz que há crise de transporte e a madeira só chegará no prazo médio de 10 dias! O pessoal do PO, mais o de O&M , junto com o CHD, todos já fizeram de tudo para diminuir o caminho crítico de um tal de PERTO, mas estou vendo tudo longe!
- Quero uma reunião de emergência com os diretores. Vou despedir o Setor de Carpintaria e contratar outro. Se não fosse o Roboão com a equipe de recrutamento, não sei o que seria.
- Mas Presidente, faltam 40 dias para que?
- Para o Dilúvio, meu filho, para o Dilúvio! Envia o seguinte telex:
De: Absalão Presidente (AP), Para: Senhor Criador (SC).
SOLICITO PRORROGAÇÃO PRAZO RESTANTE 40 DIAS. DIFICULDADES INTRANSPONÍVEIS CRISE INTERNACIONAL DE MADEIRA. PROSTRAÇÕES. ABSALÃO. O ruído monótono da impressora deixava Absalão ansioso; mas a resposta veio finalmente:
CONCEDIDO PRAZO MAIS CINCO DIAS IMPRORROGÁVEIS. ELEVAÇÃO DAS ÁGUAS EM ANDAMENTO.
Absalão desesperou-se e partiu para a reunião. Job, pelo telefone interno, iniciou a telefofoca do Dilúvio.
Octogésimo segundo dia.
Gau adentra o gabinete do Presidente:
- Chefe, tenho aqui um relatório de que há um desvio de cipós de amarração no almoxarifado. A listagem do Computador não bate com a Auditoria...
- Que inferno, Gau! Coloque sua equipe em campo. Jacob está fora de suspeita por ser meu antigo companheiro de batalha. Verifique o pessoal da carpintaria. Mande um memorando ao Roboão para aumentar a equipe de Segurança.
- Job, ponha o Roboão na linha...
- Roboão, aqui é o Presidente. Já recrutou os carpinteiros?
- Infelizmente não passam nos testes psicotécnicos, meu Chefe. Já até afrouxamos essas provas, mas o exame de reconhecimento de tipos genéticos de cupim reprova todo mundo. É por isso que a madeira de estoque está bichada, conforme relatório do Departamento de Material.
- Presidente, - interrompeu Job - é urgente: Há dois pastores na ante-sala, dizendo que há crise de leite nas cabras e não está havendo distribuição aos funcionários já há uma semana. O suprimento parece que não providenciou capim no secado pasto... Qual a sua decisão?
Centésimo dia. Reunião da Diretoria.
- Senhor Presidente, falou o DI, dentro de uma semana vencem nossos empréstimos internacionais com os povoados vizinhos e o caixa não é suficiente. Nosso EMPREENDIMENTO economicamente vai muito bem, mas financeiramente estamos na beira de uma crise de insolvência de caixa. Sugiro uma redução de pessoal!
- Toda vez que se fala em reduções, todos olham para mim - explodiu o Comandante de Operações.
- Sem meus homens não há operação do barco, que nem sair do porto pode. E meu simulador ainda não foi aprovado!
- Senhor Presidente, - timidamente tentou o DB: Acho que o Comandante tem razão... Mas, não prometeram ao MINISTRO que o barco estaria pronto em breve?
- Mas... sem material, como posso fabricar madeira? - gritou o DC. "Meu Laboratório não acha madeira local e há crise de transporte! Os carpinteiros são incompetentes... E este tal de Noé? Que fez ele até agora? E ganha 10 dinheiros..."
- Senhores! falou gravemente o Presidente. Todos olharam esperançosos.
- A situação do EMPREENDIMENTO é razoável, mas temos que tomar uma atitude mais séria quanto ao projeto do barco...
- Presidente, não quero interrompê-lo, mas em nossos arquivos não constam os exames de admissão de Noé e nem sabemos se ele é mesmo Engenheiro Naval...
- Sim... Mas, a culpa é minha - falou o Presidente.
- Contudo, quando contratei Noé, ainda não existiam as Normas do EMPREENDIMENTO. Tudo era muito improvisado naqueles dias.
- Senhor Presidente, a culpa não pode ser somente de V. Excia. - acrescentou o DI.
- Esse Noé é um oportunista sem escrúpulos, querendo fazer-se passar por Engenheiro Naval, sem ter freqüentado nenhum curso regular...
- Ele é um bom homem, concedeu o Presidente.
- Mas está desviado da função, Senhor Presidente, re-argüiu o Comandante de Operações.
- Não podemos permitir que o mau exemplo prolifere! Que vou dizer ao meu pessoal? Como vou manter o moral da equipe, permitindo que eles pilotem um barco construído por um arrivista qualquer, que nem Engenheiro é? - acrescentou o Comandante.
- Não há outra solução, Senhor Presidente... Todos se entreolharam. Alguns começaram a rabiscar flechas nos blocos de anotações. Absalão mantinha-se calado. Por fim, decidiu:
- Noé está despedido! E virando-se para Roboão:
- Providencie a anotação em sua Carteira de Trabalho...
- Mas Chefe, nem carteira ele tem...
- É isso! Um desorganizado total! Cada vez mais me convenço do erro de tê-lo convidado! Notifique-o então que ele está sendo despedido. No interesse do EMPREENDIMENTO...
Noé realmente ficou furioso com a notificação. Mas exigiu a fração do décimo-terceiro salário que lhe cabia. Estava disposto a sair daquela terra e o caminho mais fácil era pelo rio. Partiu para a floresta e reuniu 5 companheiros.
- Amigos, vamos cortar essas árvores bichadas mesmo, construir um barco e sair daqui!
- Mas Noé, nem somos carpinteiros e nem sabemos fazer barcos...
- Não importa. Ensinarei a cortar a madeira e já tenho os desenhos. Formaremos uma equipe motivada com objetivo de construir um barco para uma vida melhor em outras terras. Levaremos uns bichos a bordo para comer na viagem. Só falta meter mãos à obra. Em poucos dias, o casco do barco já tomava forma.
Centésimo-vigésimo-quinto dia.
O Presidente acordou preocupado. A madeira tinha chegado, mas só havia 3 carpinteiros no Setor de Carpintaria. Sua charrete tomou o caminho mais rápido para o escritório, para evitar o mau tempo. Nuvens pesadas cobriam os céus. Absalão foi direto ao telex, mas Job só chegava às 10 horas. Absalão correu ao CPD.
- O que há aqui, não começou o expediente? Quem é Você?
- Sou uma perfuradora, Senhor. Há dias não há ninguém. Dizem que pelo Plano de Classificação de Cargos e Salários e pela Política de Promoções, não fica ninguém... Absalão voltou ao escritório. No caminho encontrou com Gau, que lhe disse preocupado haver um zum-zum acerca de um tal de Plúvio que poderia ser um terrorista, mas que sua equipe... Absalão ficou branco e correu ao telex.
- Job, rápido!
De: Absalão Presidente (AP), Para: Senhor Criador (SC):
DIFICULDADES INSUPERÁVEIS COM O PROJETISTA ATRASARAM EMPREENDIMENTO. SOLICITO PRORROGAÇÃO PRAZO. A resposta foi imediata: DO: Senhor, Para: Absalão: PRORROGAÇÃO NEGADA
E começou a chover... Absalão correu para fora, seguido de Jacob. - Chefe, há um barco descendo o rio. Veja na proa... está escrito... está ..." ARCA DE NOÉ
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Se medicaram:
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sexta-feira, novembro 04, 2005
Gente,
A despeito de toda essa história sobre febre maculosa, a doença da vez, andei pesquisando mais a fundo a coisa, até porque trabakho muito próximo do último foco registrado no Rio de Janeiro, em Itaipava. Fui apresentado a essa doença já há algum tempo, quando tomei conhecimento de um caso ocorrido em Campos/RJ e não divulgado pela grande mídia. Como tenho propriedade rural em Minas e faço obra em casa-de-campo, vem daí a minha preocupação.
Então, a quem interessar, vai aí um resumo fácil e claro do que seja mais essa praga.
FEBRE MACULOSA
Márcio Antônio Moreira Galvão Departamento de Nutrição Clínica e Social Escola de Nutrição - Universidade Federal de Ouro Preto
RESUMO O autor faz um breve histórico sobre a febre maculosa, contextualizando-a dentro do cenário do desenvolvimento científico, para a seguir apresentar uma discussão sobre conceito, etiologia, epidemiologia, patogenia, diagnóstico clínico e laboratorial, tratamento e profilaxia da doença. Palavras-chave: febre maculosa; rickettsioses, clinica, epidemiologia. ABSTRACT The author first does a brief historic description about spotted fever, placing in context this disease in the scientific scenery. This will be followed by a discussion about the definition of spotted fever etiology, epidemiology, pathological data, clinical and laboratory diagnosis, treatment and prevention. Keywords: spotted fever; rickettsial diseases, clinic, epidemiology.
HISTÓRICO De todas as doenças que afligiram o homem, as doenças rickettsiais, particularmente no Brasil a febre maculosa, se situam entre aquelas doenças que mais causaram sofrimento e morte, inclusive para vários pesquisadores pioneiros no diagnóstico e pesquisa sobre as mesmas. Em Minas Gerais, Belo Horizonte, a morte de um conhecido personagem da história da cidade, o Padre Eustáquio, é atribuída a essa doença. Historicamente em 1899, Maxcy descreve nos EUA as manifestações clínicas da febre das montanhas rochosas. No período de 1906 a 1909, Ricketts conseguiu sucesso na transmissão dessa doença para porquinhos da índia, incriminou o carrapato como vetor, e observou rickettsias em espaços preparados a partir de tecidos de carrapatos [14]. Em 1929, em São Paulo, José Toledo Pisa iniciou a distinção da febre maculosa das demais doenças exantemáticas no Brasil, inclusive chegando a demonstrar sua semelhança com a entidade nosológica descrita pelos americanos como Rocky Mountain Spotted Fever [12]. Os anos da 2ª guerra mundial nos trouxeram como legado avanços importantes no controle das rickettsioses, como o uso de inseticidas no ataque aos artrópodes vetores. O advento dos antibióticos, na década de 40, trouxe resultados surpreendentes no tratamento das rickettsioses, sendo que o uso indiscriminado dos antibióticos contribuiu para dificultar o seu diagnóstico por mascarar o aparecimento do exantema máculo-papular, principal sinal da doença [4]. Em 1952, o professor Octávio de Magalhães, notório cientista mineiro que estudou durante muitos anos a febre maculosa em nosso Estado, publica extenso trabalho sobre o comportamento da febre maculosa em Minas Gerais no período de 1929 a 1944 [12]. Após essa publicação, nenhum trabalho foi publicado em Minas Gerais ou mesmo fora do Estado sobre a febre maculosa de Minas, o que só veio a ocorrer em 1983, com Galvão e colaboradores, quando foi descrita uma epidemia pela doença no município de Grão Mogol, Vale do Jequitinhonha [10].
CONCEITO, ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA A febre maculosa é uma doença causada por uma bactéria chamada Rickettsia rickettsii, um microorganismo gram-negativo intracelular obrigatório. Várias espécies do gênero Rickettsia causam doenças no homem e em outros hospedeiros vertebrados e invertebrados e possuem uma larga distribuição no mundo. Nos Estados Unidos da América, a febre das montanhas rochosas, também causada pela Rickettsia rickettsii, constitui o equivalente da febre maculosa brasileira. Octávio de Magalhães, referindo-se à febre maculosa na década de 30, a designava de "tifo exantemático neotrópico" em alusão ao tifo epidêmico de origem fora dos trópicos [12]. Pelo que se conhece até o momento em nosso país, a febre maculosa, a mais comum e mais letal das rickettsioses existentes, é transmitida ao homem por carrapatos da espécie Amblyomma cajennense, carrapato encontrado com freqüência no boi e no cavalo, porém com pouca especificidade parasitária, especialmente nas fases de larva e ninfa. Os carrapatos infectam-se ao sugarem animais silvestres. No entanto, a doença não depende desses animais para sua manutenção, pois ocorre transmissão transovariana entre os carrapatos. Os carrapatos, portanto, além de transmissores, são também reservatórios [6]. O fato de o maior número de casos em Minas Gerais e no Brasil ocorrer no segundo semestre, com pico em outubro, parece ter relação com o ciclo evolutivo dos carrapatos, já que as formas infectantes (ninfa e adulto) ocorrem predominantemente no segundo semestre [6]. Em algumas regiões, a febre maculosa ocorre esporadicamente quando o homem, seja trabalhando ou em atividades de lazer (pescarias, acampamentos, etc.), se aprofunda em matas onde ocorre o ciclo silvestre, foco natural da doença [3]. Octávio de Magalhães [12] levanta a hipótese de transmissão peridomiciliar, em que o cão poderia desempenhar papel importante, trazendo para o domicílio carrapatos contaminados, o que é mais provável, ou mesmo se infectando em áreas de foco e passando a atuar como reservatório domiciliar, o que é discutível. Em Minas Gerais, tem sido comum a ocorrência de casos isolados em áreas há muito já colonizadas, independente de contato com a mata e/ou foco natural da doença, além da forma epidêmica com elevado número de casos e óbitos. Essa ocorrência, sob a forma de epidemia, pode ser verificada, em 1981, em Grão Mogol, Vale do Jequitinhonha; em 1984 no Vale do Mucuri, nos municípios de Ouro Verde de Minas e Bertópolis [5,9]; em 1989, em Virginópolis - Vale do Rio Doce [17]; em 1992, na periferia de Caratinga [4]. Fora essa forma epidêmica, os casos isolados ou de ocorrência com pequeno número, mas de alta letalidade, têm ocorrido em todo o Estado, com exceção do sul de Minas e Triângulo Mineiro, com predominância nos Vales do Mucuri, Jequitinhonha e Rio Doce e na periferia de grandes cidades como Juiz de Fora em passado recente [4] e, em Belo Horizonte, em 1997. No Brasil, além da ocorrência da febre maculosa em Minas Gerais, temos o relato de casos nos Estados do Rio de Janeiro [11], São Paulo [1,15], Espírito Santo [16] e Bahia [13], porém apenas Minas Gerais detém uma vigilância da doença, o que nos permite conhecer alguns dados importantes como uma incidência da ordem de 0,35 casos por 100.000 habitantes no período de 1990 a 1994 [8], para uma incidência anual relatada variável de 0,24 a 0,32 casos por 100.000 habitantes nos EUA no período de 1985 a 1990 [18]; uma incidência maior no sexo masculino, na faixa etária de 5 a 14 anos, no mês de outubro, e uma letalidade (óbitos entre os casos ocorridos) de 10%, esses últimos dados todos referentes ao período de 1981 a 1994 [8].
PATOLOGIA Todas as rickettsias são consideradas bactérias pequenas, parasitas intracelulares obrigatórias na espécie humana. Diferem dos vírus por serem células procarióticas que se dividem por fissão binária. Também possuem DNA e RNA, bem como paredes bem desenvolvidas, gram-negativas, sistemas enzimáticos próprios e ligações de fosfato [7]. As células endoteliais e reticuloendoteliais de uma grande variedade de espécies animais, incluindo artrópodes, aves e mamíferos, oferecem condições viáveis para a replicação das rickettsias [7]. As rickettsias, quando no meio extracelular, podem produzir lise celular. Para sobreviverem, as rickettsias replicam-se indefinidamente em alguns hospedeiros: todas as rickettsioses são zoonoses com hospedeiro artrópode e/ou vertebrado. A propagação transovariana do micróbio no vetor é o mecanismo perpetuador das rickettsias em artropodes (R. rickettsii). Na doença causada por essa bactéria - febre maculosa - o hospedeiro vertebrado pode causar ampla disseminação do processo por causa de sua mobilidade [7]. As lesões vasculares disseminadas constituem a base fisiopatológica do quadro clínico: edema, aumento do volume extracelular com conseqüentes hipotensão, necrose local, gangrena e distúrbios da coagulação (coagulação intravascular disseminada). Ocorrem infartos vasculares, com subseqüente isquemia, no cérebro, principalmente no mesencéfalo e nas regiões dos núcleos, e, menos freqüentemente, no coração. No fígado, pode haver lesão perivascular nos espaços-porta, com degeneração gordurosa dos hepatócitos. As alterações renais consistem de lesões vasculares intersticiais focais, acometendo poucos néfrons [7].
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação varia de 2 a 14 dias. A doença inicia-se bruscamente com febre alta, cefaléia e mialgia intensa. Entre o segundo e o sexto, dia surgem as manifestações cutâneas. É comum a presença de edema nos membros inferiores e oligúria nos casos mais graves. Hepatoesplenomegalia pouco acentuada pode ser observada [6]. Se não tratado, o paciente evolui para um estágio torporoso, de confusão mental, com freqüentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo. Icterícia leve e convulsões podem ocorrer em fase terminal [6]. A letalidade dessa forma da doença, quando não tratada, pode chegar a 80%. No entanto, alguns autores chamam a atenção para formas oligossintomáticas ou frustas ,que não chegam, assim, a ser diagnosticadas [6]. Em geral, no quarto dia da doença, surge o exantema maculopapuloso, predominando nos membros e não poupando as palmas das mãos e as plantas dos pés. Com a evolução da doença, nos casos graves o exantema vai transformando-se em hemorrágico, constituído principalmente por equimoses. No paciente não tratado, as equimoses tendem à confluência, podendo evoluir para necrose, principalmente nos lóbulos das orelhas e no escroto. No exantema da febre maculosa, ocorre descamação em geral no final da segunda semana. Em pacientes de pele escura, o exantema pode ser de difícil visualização. O uso de antibióticos também pode interferir na evolução do exantema [6]. Essas manifestações são o resultado da reprodução do agente nas células endoteliais dos pequenos vasos sangüíneos. A multiplicação das rickettsias causa edema, hemorragia, trombose e necrose. Há também infiltrado celular perivascular. Vasculites ocorrem também em outros órgãos, como no sistema nervoso central, coração, músculos, rins, etc. [6].
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL A reação de Weil-Félix é arcaica e não específica, porque se utiliza de antígenos não rickettsiais. Uma segunda e terceira geração de testes sorológicos incluem as reações de imunofluorescência indireta; Western-blot e enzimoimunoensaio (Elisa), respectivamente [2]. Esses testes são bastante sensíveis e específicos e podem detectar todas as classes de anticorpos, estando disponível, em Minas Gerais, a reação de imunofluorescência indireta na rotina do Instituto Octávio de Magalhães da Fundação Ezequiel Dias, laboratório esse referencia da Organização Mundial de Saúde para diagnóstico da febre maculosa e outras doenças rickettsiais.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial da febre maculosa faz-se inicialmente com outras rickettsioses, em especial o tifo murino, transmitido pela pulga do rato e com a ehrlichiose humana, uma rickettsiose de cão ainda não diagnosticada no Brasil em humanos. Em nosso meio (principalmente no nordeste de Minas Gerais), tem sido comum confundir febre maculosa com meningococcemia, fato também descrito por autores norte-americanos. Na meningococcemia, não é habitual a história de febre e malestar antecedendo ao exantema em mais de 24 horas. Na ocorrência de epidemias, o aumento de incidência de meningococcemia, em geral, é concomitante com o aumento das formas meníngeas da doença [6]. A febre maculosa deve ainda ser diferenciada do sarampo, da febre tifóide, da dengue e da mononucleose infecciosa.
TRATAMENTO No caso da febre maculosa, a letalidade da doença diminui de forma espetacular quando o tratamento é introduzido em tempo hábil. Os casos graves devem ser hospitalizados; sobrevivendo às primeiras 48 horas de tratamento, é rara a evolução para o óbito ou o desenvolvimento de seqüelas. Aqueles casos mais brandos ou de diagnóstico muito precoce podem ser tratados em ambulatório, com controle médico diário[6]. O agente etiológico da febre maculosa é sensível às tetraciclinas, ao cloranfenicol e à rifampicina. Embora estudos nos EUA tenham mostrado que a tetraciclina é um pouco superior ao cloranfenicol no tratamento da febre maculosa, nossa experiência é com o cloranfenicol, por não estar disponível, no Brasil no momento, apresentação injetável de tetraciclina [6], por ser esse tipo de apresentação fundamental nos casos graves.
PROFILAXIA A melhor forma de controle da febre maculosa no momento é uma boa vigilância epidemiológica por parte dos serviços de saúde e uma vigilância social por parte da população, a fim de que seja feito o diagnóstico precoce, com tratamento imediato da doença. A melhoria das condições de vida e de saúde de populações sujeitas à doença e/ou episódios epidêmicos coloca-se como primordial [6]. As vacinas, conhecidas até o momento no caso da febre maculosa são de baixa eficácia, além de não promover imunidade duradoura [6]. O uso de inseticidas no extermínio de carrapatos, tanto no plano de indivíduos (animais e no homem), quanto na natureza, deve ser visto e executado com muito cuidado. Algumas medidas, como rodízio de pastos e capina da vegetação, podem trazer resultados no controle da população de carrapatos. Em nível individual, seria recomendável a remoção de carrapatos o mais rápido possível após a infestação, já que, no caso da febre maculosa, a doença parece ocorrer com maior freqüência em indivíduos que permanecem com o vetor no corpo por um período de tempo maior, tendo Octávio de Magalhães sugerido ser esse tempo de 36 horas em média [12].
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