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terça-feira, junho 27, 2006
Há alguns dias atrás, rolou pela rede uma suposta entrevista feita com o bandidão paulistano Marcola, apontado como o líder do PCC, facção criminosa que supostamente domina o "mercado" Rio/São Paulo. Depois de divulgada, a tal entrevista foi negada e rotulada como falsa pelas autoridades oficiais, que nela teriam visto uma apologia ao crime. Na Internet, a tal entrevista vem sendo atribuída ao jornal O Globo, mas não é nada disso: teria sido obtida pelo jornalista Roberto Cabrini (aquele que já foi da TV Globo, e que hoje faz o sensacionalista Brasil Urgente, na TV Bandeirantes), mas tem muita gente achando que a história toda foi montada. Bom, se a coisa é verdadeira ou não, isso não tem a menor relevância, já que o que importa mesmo são as questões que foram colocadas e a visão que o entrevistado tem da coisa toda, independentemente de quem seja o fulano. A seguir, a íntegra do papo, que não perece ter a cara do Marcola, se comparado com o que se conhece de sua verborragia pseudo-politizada. Tem mais jeitão de recado de intelectual do que de meliante versado em letras. Mas as questões são rechonchudas, verdadeiras e urgentes. A realidade é esta, sem retoques mesmo, sem o romantismo dos velhos furos de reportagem, sem o sensacionalismo da TV. Há anos eu discuto isso, convidando as pessoas a olharem, por exemplo, o Rio de Janeiro com outros olhos - não do Cristo ou do Pão de açúcar, mas lá da Igreja da Penha. Verão, até onde a vista alcança, uma grande favela horizontal, resultado do abandono mais sutil das autoridades (mas nunca menos grave), que é o descaso com a questão urbanas nas grandes cidades. Mas, vamos à leitura da dita fantasiosa entrevista. As conclusões ficam por conta de cada um. Policiais trocam "caveirão" por lotada.
Os pessoais do morro meteram, ontem, uma granada no blindado da PM, que teve que fazer um frete pra voltar pra casa... Foi lá no morro do Alemão, numa imagem toda bacana do jornal O Dia.
A Entrevista: "Você é do PCC?" - Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só apreciamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...
- Mas... a solução seria... - Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha queos 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
- Você não têm medo de morrer? - Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né?Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivada na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
- O que mudou nas periferias?
- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de trêsoitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
- Mas o que devemos fazer?
- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país estáquebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?--- Mas... não haveria solução?
- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos deles e vocês...não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi che entrate!" Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.
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terça-feira, junho 13, 2006
Festa ardente Por Thimóteo Rosas*
"Pai, qual a festa que você mais gosta?" - perguntou-me o filhote. Pensei daqui e dali, antes de responder que não sabia. Aliás, antes de perceber que não tinha a menor idéia. Que coisas são essas, que só as crianças falam? Será que perdemos a capacidade de pensar em coisas geniais, quando crescemos? Tornamo-nos enfadonhamente lineares, eu acho. Hoje eu li lá no blog da Tchela, um mágico diálogo dela com o Furacão (da já famosa dupla Furacão e Foguetinho):
Filhote ouvindo mamãe comentar que não gosta de cortar os cabelos no frio: - Mamãe, não é que o cabelo esquenta a cabeça? - É sim, filhinho, e também protege a cabeça. - Como? - Se uma pessoa careca toma muito sol na cabeça, pode ficar com o couro cabeludo queimado. - Mamãe, mas quem é careca não tem couro cabeludo! Só tem couro!
E pensar que o futuro pertence a eles... Sei lá. Mas, voltando à história da festa, fiquei pensando em qual tipo de festa eu me sinto melhor, assim, que nem "pinto no lixo" mesmo. Dizia o Emílio, um amigo equatoriano, que uma festa boa tem que ser "una fiesta ardiente". Será? Bem, de Carnaval todo mundo gosta. Eu não. Sentar o rabinho na frente da TV pra ver bundas e peitos não é o melhor programa da minha vida. Gosto do Carnaval porque posso bundear pela cidade mais calma. Só por isso. Natal em família. Expressão redundante. Natal, só em família mesmo, pois de outra forma não existe. Ah, o Natal, como era bom, na infância... Não é mais a mesma coisa, mas ainda rola um clima. Presentinhos daqui e dali, reencontros com as mesmas pessoas do ano passado, um ano depois. Normalmente a gente ganha coisas das quais não gosta e desconta nos outros, sem nem perceber. Festa de aniversário: Tanto dos outros quanto do nosso, essa festa é sempre a mesma coisa: o sujeito se mata pra receber os amigos da melhor forma possível, aluga salão, faz supermercado de última hora, corre pra gelar as bebidas, fritar salgadinhos, alugar as mesas, contratar garçons, o carinha da música, o animador e o escambau e, como resultado, não se diverte porque fica a dar atenção aos convidados. Mas, o melhor disso tudo, é que sempre tem alguém que sai falando mal da festa. "V. viu só que salgadinho horrível? Nossa, como é que se tem coragem de servir uma coisa daquelas? Quase nem tinha camarão..." "E a cerveja? Só tinha aquela marca, como é mesmo? Boemia? Logo eu, que só tomo Antártica..." "A decoração da mesa tava tão feiazinha, né? muito sem graça..." "Mas olha... aquela roupinha da menina, tadinha, tava um horror... Me poupe..." É. Festa de aniversário é isso. Ou não é??? Churrasco: Ai, meu Deus... Um perigo. Isso me lembra uma vez em que minha mulher foi a um churrasco de confraternização de fim-de-ano. Marcaram num clube, ao meio dia em ponto. Elegeram um churrasqueiro, um professor, do tipo "gente-fina-toda-a-vida", sem que, no entanto, averiguassem seus antecedentes na nobre arte de colocar uns pedaços de carne sobre um leito de carvão aceso. A cena: sem faca para o talho das carnes, sem talheres, sem acompanhamentos e - o pior! - sem a carne! Lá pelas duas da tarde, compraram alguma coisa; e enquanto uma parte não identificada de um pobre bovino ardia em chamas na churrasqueira, os convivas se matavam por um pedaço de pão-de-alho queimado, molhado em cerveja quente. Churrasco não poderia ser minha festinha preferida mesmo. Festa de despedida: Essa, nem pensar. Ano-novo, o Reveillon original, hoje tão sem o mesmo propósito de antes. É a festa das ilusões, onde todo mundo acredita, baseados em sabe-se lá o quê, que o mundo será melhor, já a partir do dia seguinte - se não for segunda-feira, claro. Aí, a criatividade impera: as roupas para a festa podem ser de qualquer cor, desde que sejam brancas, em todas as variações de suas matizes... Todos têm que assistir à queima de fogos em Copacabana, e a meia-noite clássica, é hoje uma questão de preferência pessoal, considerando-se o "Horário Brasileiro de Verão", essa coisa estranha que fazem com o tempo, da qual todo mundo diz que gosta. Festa Junina: Taí uma festinha que tem de tudo pra ser boa. Mesmo quando é ruim, diverte! Tem pescaria, bolo de mandioca, de milho, tapioca, milho verde, fogueira, correio do amor, salsichão, pipoca, quentão, prenda, quadrilha, ufa...! Tem tanta coisa que só não agrada a quem não comparece. É uma festa que me interessa. Suruba. Oba! Essa sim, é a boa. É a mais praticada em Brasília, renovada e legitimada a cada 4 anos. É a festa preferida dos políticos e da qual nós todos participamos à distância (você também, viu? legal né?), na mais legítima expressão democrática. Ou v. vai me dizer que nunca se sentiu assim, digamos, com aquela sensação de ter tido sua retaguarda retofuricular violentada por alguma GRANDE medida provisória vinda lá do Planalto? Nessa festinha, eu tô dentro sempre - contra a minha vontade, claro - já que sou parte dessa nossa democracia, desse festival de falos ávidos, na qual somos (ou temos) a parte da qual eles mais gostam... Para "nosotros" - diria eu ao velho Emílio - es una fiesta mui ardiente... Uuuuiiii!!! Tá vendo, filho? Quem mandou perguntar???
*Thimóteo Rosas, preocupado com a próxima gestão do precedente Lula, já começou seu precioso estoque de Hipoglós, para a grande surubada dos próximos 4 anos.
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quinta-feira, junho 01, 2006
Pessoais, aí vai um texto que remete a outro, transcrito logo a seguir. Eles falam por si, de uma personagem curiosa e rara. Confiram.
De volta ao Bar do Jóia
Foi assim, meio sem querer, quase por um acidente que entrei no bar do Jóia, outro dia ao meio-dia, como se almoçar fosse. Queria saber dele, do velho Jóia, satisfazer a angústia natural de uma saudade relaxada, daquelas que só nos incomodam quando nos lembramos delas.
O bar estaria vazio, não fossem dois convivas aboletados numa das mesas próximas à entrada, cuja conversa se inundava em cerveja. O velho Jóia sentado, sem camisa, experimentava uma ?Antarctica? gelada, deixando à mostra o peito enrugado, como se ali a vida houvesse gravado um mapa, a denúncia explícita de onde tanto andara aquela alma. Havia um certo ar de ocaso, em tudo. Talvez seja assim que a decadência se revela, quando se tenta disfarçá-la.
Aos 90 anos, o bom Jóia me emociona. Seja pelo sofisticado gosto pela música clássica, que preenche aquele botequim (alguém aí, conhece algum botequim onde só se ouve música erudita?), seja pelo descaso com os cerimoniais que vida dos outros exige. Ou seja ainda pela sua impossibilidade de andar, de ficar em pé, sequer, por conta de uma artrose perversa. Contudo, ainda assim o Jóia leva a vida como se dela tivesse enorme crédito, quando nós a vivenciamos sempre em débito. Enquanto nossos sorrisos começam na boca, os dele nascem na alma. A gente ri para a vida; ele, gargalha dela. Uma preciosidade de homem, esse Jóia.
Mas, o bar vai mal. Noventa e sete anos de existência, sete a mais que o dono, sucumbe não apenas à modernidade, mas, também - e principalmente, ao tempo. Ele nos ensina que o tempo, esse sim, é o grande senhor de todas as verdades. E que talvez a verdade da hora seja a de que, em breve, aquele local só existirá em nossas lembranças. O Jóia fez sua parte: levou o velho Rio Paiva por mais de sete décadas, desde que herdou o lugar do pai. Eternizá-lo, se for o caso, é a tarefa dos que ficam.
De qualquer forma, ainda resta a esperança de que todos nós nos encontremos numa possível comemoração pelos 100 anos do Bar e Restaurante Rio Paiva. Mas, cá entre nós: centenário à parte, o Rio Paiva ainda é um senhor boteco...
O texto anterior, de agosto/2004:
O bar do Jóia Por Thimóteo Rosas*
Se algum louco me pedisse pra bancar o repórter, e, se eu tivesse que fazer uma reportagem sobre o "Café e Bar Rio Paiva", acho que seria mais ou menos assim:
Paro na porta e espio o cardápio do dia, na tabuleta negra, cortesia de uma fábrica de bebidas:
"Carne de panela com tutu - R$ 7,00". "Dobradinha à moda - R$ 7,00"; "Filé de peixe com arroz e purê - R$ 7,00"; "Paio na manteiga - R$ 7,00"(...).
Entre algumas possibilidades de pedido, decido entrar e resolver-me, já devidamente acomodado numa das enormes mesas do lugar. Um claro sinal de que alí, a preocupação em encher a casa sacrificando o conforto do freguês simplesmente não existe. Olho de novo a tabuleta e pasmo com o menu do dia seguinte: "Amanhã: Coisas". Simplesmente o máximo. Descubro que a comida, por conta de um negra simpaticíssima, é simples e saborosa, típica de um bom botequim, coisa rara, no Rio de hoje. Será que a negra bonita é a esposa do Jóia? A música não rola, é conduzida: Mozart, Bach, Beethoven, Thelleman, ou os nacionais Villa Lobos, Radamés, Lourenzo Fernandez ou Mignone, são íntimos da casa. Aliás, do sobrado, de arquitetura da virada do século dezenove. Ali as coisas são tão antigas e originais, que até o velho balcão em mármore, apesar de reformado, é absolutamente original. Não há nada velho, apenas antigo. Antigo no tempo, do tempo em que era moderno ser antigo; do tempo do retrato de família na parede, com expressões da juventude antiga. Um cartaz de Coca-Cola "família" (do tempo que ainda havia ambas), estranhamente, convive bem com outros tantos, de filmes nacionais e chamadas diversas; delatam a passagem de gentes das artes por ali. Outras artes também andaram fazendo moçoilas exibidas cujas fotos, digamos, descontraídas, migraram - misteriosa e diretamente - de revistas masculinas para o mural do Jóia. Um outro aviso informa que, em algum tempo, a casa receberá nova pintura. Desde que conheço a casa que o aviso está lá, necessitando ser repintado. "78 anos de vida, 65 de Bar Rio Paiva" - lembra o velho "Jóia" sem muito esforço. Curioso, fico perguntando coisas (distraído, que é pra disfarçar). Talvez fingindo ser enganado, ele vai falando, animado. A expressão de alguma reverência pela minha presença só existe porque sou um ilustre desconhecido. Entre os que chegam, logo aparece um amigo e ele então se solta, travesso. Depressa, divide uma cerveja gelada com o freguês, agora convidado. E se o felizardo for botafoguense, sei não. É bem capaz de ter redução na despesa. De graça, não, "que eu não tenho filho dessa idade", resmunga. Teimoso, pergunto se Jóia é sobrenome ou apelido. - É de nascença - diz. - Aliás, é de antes de nascer, quando minha madrinha jurada, dizia, acariciando o ventre de minha mãe: "Comadre, cuide bem dessa jóia que você traz aí; esse menino ainda vai te dar muito orgulho..." Bem, eu não sei qual o orgulho que o Jóia deu pra mãe, mas dá pra notar que, por aqui, todo mundo morre de orgulho de ser amigo dele.Aqui e ali, uma ou outra tabuleta, onde se lê: Bar do Jóia, Boteco do Jóia, Jóia's Bar... Parece até que o velho "Rio Paiva" adota um nome para o gosto de cada freguês. Talvez por isso o lugar exiba um singelo diploma concedido por uma suspeitíssima "Confederação Gastronômica Internacional", pelo título de "O melhor boteco do Mundo". Mas eu ainda acho que estão tentando enganar o velho Jóia: O Bar Rio Paiva é, sem dúvida, o melhor botequim de todo o universo...
Café e Bar Rio Paiva - Rua da Conceição esquina com Júlia Lopes de Almeida (por trás do Colégio Pedro II da Av. Mal. Floriano, centro do Rio).
*Thimóteo Rosas foi chefe de manutenção da Biblioteca Pública do Rio, antes de se aposentar com o vigoroso salário de R$ 420,00 e jamais seria dublê de repórter, porque ele não é besta. Conta-se que, certo dia, apareceu no Rio Paiva uma jornalista de um grande jornal, e que queria fazer uma reportagem sobre o inusitado bar. A moça e seu fotógrafo, foram gentilmente descartados do local , com o Jóia caladão, sem responder a uma só pergunta da pobre coitada. Um segredo: se o Thimóteo quiser, pode tirar uma ou outra foto, que o Jóia deixa. Mas, só isso.
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